29 maio 2011

a última busca na sua janela

era eu. frágil. com a mochila velha no lado direito das costas e a jaqueta jeans no esquerdo. caminhava em sua direção com feições trêmulas, segurando o choro. fechei a porta olhando fixo nos teus olhos. você, tão bonito, barbudo, me olhando doce, consternado, anestesiado pela despedida. eu sabia que antes de chegar até você, cairia minha primeira lágrima. e a força da gravidade cumpriu seu papel. enquanto você me abraçava, apertei seu rg contra meu peito e beijei sua foto. frágil como uma casca de ovo. e seus olhos atentos, me observando como alguém observa uma gotinha caindo (única) no vidro da janela num dia chuvoso. te abraço. estamos com a mesma roupa de ontem. é como um ninho. maio. faz frio. ontem, quando você voltou do banho, eu já dormia. quando acordei de madrugada e percebi que estávamos na cama, me odiei. te odiei por não ter me acordado. odiei tudo por ter dormido e não ter passado longas horas conversando com você na cama. analisando o mundo sob o nosso viés, tão particular. falando sobre o trabalho, a vida, as pessoas, o amor. gosto de te doar minhas entranhas. gosto de adormecer ouvindo sua respiração. gosto da segurança, do conforto e da paz que me dá quando estou ao seu lado.

22 maio 2011

tudo pesa

as plumas
os pés
o uísque (que estou aprendendo a beber, confesso)

o celular desligado
a falta de ideias melhores
a competitividade
(quase não soube escrever "competitividade" agora, por deus)

o trânsito
pedir carona
quebrar o guarda-chuva

ter sido
o tempo
ávido
ter tido
o tempo
(claro)

os ossos
amarelados

e escrever
assim
picado
pesa
demais

tal qual a preguiça em elaborar frases complexas ou incríveis ou, simplesmente, pensar que, ah, foda-se....

veja,
isto não é nada....
nada. nada de nada....
é um post it invisível
é o que escrevo a mim mesma quando frágil ou com saudade ou ous...

comer e dormir e são quase duas - tempo que passa -

abraços (muito, muito) cordiais,


de alguém que mal sabe o que é o prêmio nobel

10 maio 2011

me aconteceu lembrar lembranças

hoje aprendi que não posso ser mais rápida que os ônibus. porque meus pés não alcançam, porque meu fôlego é de fumante e meu sono é de pedra. cogito uma casa. agora. cogito escrever livre, sem medos desnecessários. quero construir a palavra e pintar as paredes e sair pra almoçar e parar de ficar assim envergonhada, sem saber como ajeitar os ombros no corpo. hoje, dentro do ônibus indo pra puc, desejei forte um último desejo: abraçar meu cachorro que um dia sumiu e sentir o cheirinho dele.

08 maio 2011

provavelmente

pois quando entrei lá, achei que as coisas mudariam. e achei que os pés, cheios de cascas, cansados de andar; e o nariz, repleto, invadido, transbordante de imensitude, de algo realmente grandioso; achei que os ouvidos, tão hospitaleiros e simpáticos; achei que minhas mãos, sem mais tremulices, receberiam, dignamente, flores e amor; acreditei achar a solução para todos os problemas. e que meus pés gozariam e desfrutariam do melhor gramado; da grama mais verde e confortável de se pisar. achei que os abraços seriam tão longos quanto os braços. mas descobri que lá, onde é tudo vazio como em qualquer lugar, é, sim, habitável. porém, terei de construir - com esforço - minhas paredes. terei de costurar meu cobertor se não quiser morrer de frio. lá, naquele lugar, naquele que já foi mal e bendito, que foi esperado e odiado. aquele lugar, onde planfleta-se a falta de zêlo ou apenas uma esperança tola que descansa debaixo das árvores.

um lugar comparável a muitos outros - mas que, hoje, sei bem, me disseram: a vida é assim. e digo agora, puramente, sem paixão alguma, é um lugar como todos os outros. há doçura, sim, como deve haver (também) no fim do mundo. e há angústia, principalmente, em mim. logo eu, penso. justo eu, penso, que sempre lutei contra a poesia manicomial que brotou neste corpo ainda criança.

pois se meus sapatos são gastos
(e hoje sei que são)
são meus sapatos. meus.


e as pessoas são más. todas elas. ou quase todas.