22 setembro 2014

batom não cura

ao som de canto de nanã ela passa um batom escuro na boca e se olha no espelho. o decote do vestido branco rendado mostra seu colo magro, jambo e ossudo. duro feito pedra. um peito sem leite. o outro com. ela se olha. vira. mede a bunda. sem pose. não tem paciência pra isso. apenas se olha. é mãe. é amante. ainda assim, é mais sozinha que a voz de um peregrino pedindo água no deserto. se deus existe que lhe ouça. porque essa mulher está triste. e o batom não cura.