pega fogo o apartamento na esquina
e concluo que cada noite é uma noite
e cada bolero, um bolero
os passos desritmados ao abismo:
inevitáveis
há um enorme gap entre o que sou e o que devo ser
duas pontes que conectam
o acesso
ao retrocesso
difuso
e torpe
pela noite
o cansaço do cansaço
dum barco velho que não se move mais
de pessoa
pra
pessoa
pra
caeiro
pra
e o que guardo - velado velado -
nada poetizarei
nada achincalharei
a lona é morna
e envolve os fatos
enquanto não descobrir o que há por baixo
não durmo
não dormirei
nunca
amanhã haverá o trânsito
o acinzentado massacre
o pensamento que explode doido
haverá o fôlego e o choro
o poeta e o louco
e haverá a verdade
deliciosamente nua
estapeando-me a cara
todos erram.
nenhuma dor exprime
o que um vibrato retrata
num bolero
me debruço
me viro
não durmo
não engulo
haverá amanhã a carne carcomida
dois longos caminhos
e um beijo
que dirá
boa noite, sunflower.