18 abril 2011

poesia sem sal

faço poesia mixuruca
poesia sem sal
sem apelo comercial

faço poesia chorada
chata
e totalmente pessoal

faço poesia
como quem caga
no próprio pé

faço poesia
no papel
wi-fi
3g
como
quisé

16 abril 2011

na raíz dos dias


a mexerica que ganhei
num dia de trabalho


patrícia, quem nunca mais me visitou
pois provavelmente criou asas


um entardecer
de encantar os pêlos do corpo


e meu poema sobre existir
no bloquinho reciclável
que já existiu
e re-existe

10 abril 2011

para o rei torquato

sou
um mar
uma flor
um algo
um arroz
no arrozal
um milho
no milharal
um milho
numa panela
de ex-milhos
que viraram pipoca

sou
atroz
algoz
sou
um vibratinho safado
e sem fôlego

sou
uma nota de um real
uma caca de nariz no papel higiênico
sou sem classe
classe baixa
sou o passe
de um jogador
desvalorizado
dum time
do interior

sou
os últimos centavos do bilhete único
sou
o sono do cobrador que dorme manso

sou qualquer coisa simples
que todos adoram
sou uma complicação irremediável
uma enfant terrible
sou a ganância dos ricos
sou o luxo dos pobres
sou a carne mais cara do açougue
sou o jornal que enrola o peixe dentro do lixo
e que forra a gaiola do triste passarinho
que não canta mais

sou a filha do jornaleiro que abre a banca logo cedo

sou o chorume da sacola
a marca de batom na camisa do homem infiel
telefone que não toca
sou o gilete que empipoca a pele
o cigarro entre os dedos da manicure que observa o passar dos carros
sou o asfalto recém recapeado

sou triste
gestante
vegetariana
budista
marxista
evangélica
negra
menina
avó
modelo-atriz-apresentadora

sou ex-bbb
sou do norte e do sul

sou assim
pele e epiderme
tenho soluços e soluções

sou assim sou assado
a galinha e o grão
sou o mundo e sou sozinha
salsicha, molho e pão

04 abril 2011

nervosidades

pouca paciência
presse blues chato
presse alvoroço
presse blablabla desnecessário

a tênue linha entre o elo cagado
e o passar de rímel

um banho frio
uma hecatombe
no rio
março, fev-janeiro
faz sol
faz frio

um copo de fanta
que o pau levanta
um corpo que canta
e a nau garganta

na teoria
da padaria
da cocomunicação
e aristóteles
e essa guitarrinha safada
tremendo
e agora
(ahhh - suspira)

não sou sonny boy williamson
mas o serei
and i'm gonna leave your bad luck town, inez

oh yes i love her sure i do

curto rimas curtas
curto
não-rimas
não
curtos
ques
curtas
parafuso
semente
coconut
salitre
náusea
epiderme
cocô

e hoje o marlboro light aumentou.


ode-do-mal às detestáveis instituições bancárias
e à porra da maldita indústria do cigarro


essé a poesia de quem chega em casa e tem coisas a fazer pela madrugada