25 novembro 2014

principalmente em 1987

sou uma pessoa sem lençóis. chego a botar o lençol úmido, recém-tirado do varal, na cama da gata-garota pois não tenho outro. essa música. muitas mulheres choraram sozinhas em seus quartos ouvindo essa música. principalmente em 1987. fazia todo sentido. uma chorou porque jorge convidou a secretária para ir ao barzinho. outra chorou porque o professor da faculdade não entendeu seu texto cheio de manha. tudo isso dói. besteira pura, você pensa, mas você está sempre errado. você não ronrona, seu estômago não ronca. você sabe nada. nem amar você ama. seu timbre de voz irrita todo mundo no trabalho. você queima o macarrão. seu bocejo não tem febre. você não manja porra alguma da poesia das comidas queimadas.

também sou uma pessoa com cara de poucos amigos porque nenhum amigo me oferece um lençol. não é possível. não existe nenhum lençol velho por aí?

finjo que durmo. dou um ronrono, conto até três em silêncio. vejo esse abajur vermelho. esse abajur vermelho me vê. sinto uma onda de calor. a febre canta com voz de sereia dentro das estranhas entranhas. brinco de estar no mar. até pelada. eita que eita. de que adianta, criança, ter um chapéu em cima da pilha de roupas limpas? porque sou e estou completamente sozinha e com febre. me proponho a auto-sabotagem.

picolé de nuvem, que saudade do lençol de vento que você me comprou. ou nenhuma saudade. ou tudo.

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