Olho para os vinhos. Quero escolher um que custe mais de R$ 20 reais e menos de R$ 30. Uma embalagem de R$ 19,90 me chama a atenção, mas está abaixo do orçamento que estipulei, projetando qualidade e preço. Escolho uma garrafa chilena. A embalagem não tem nenhum toque especial, mas me parece agradável. A uva é Carménère. Tia Cynthia sempre escolhe essa uva e estamos falando de uma mulher de bom gosto.
Quando chego no corredor dos sucos, já não consigo controlar as lágrimas. Casais em dúvida entre o sabor de uva ou de maracujá me assistem chorando baixo. Não posso fazer nada. Mesmo assim, continuo escolhendo um suco que me agrade. Compro o da mesma marca de sempre, de pêssego.
Já passa da meia-noite, estou longe de casa e nesse momento me sinto classe média, com direito ao típico pensamento: “Eu trabalho demais. Foda-se. Eu mereço”. Chamo um táxi. O motorista está se formando em ciências contábeis esse ano. “Números...”, digo. E ele me explica que o curso é de humanas. Fico silenciosa porque o sujeito é um pouco grosso e destrambelhado. Estou frágil.
Ao chegar no meu prédio, o homem me ajuda com as compras. Seguro o portão enquanto ele carrega as sacolas. Insisto em ajudá-lo, mas ele diz “Por favor, não”. Seu cabelo é lambido de gel. Quando dou meu cartão para pagar a corrida, ele acrescenta R$ 2,50 "pelo uso do porta-malas”. Fico um pouco espantada. Nunca ouvi falar nessa taxa. Mas digo que tudo bem e ele passa o cartão. Eu já tinha mesmo pensando em dar uma caixinha.
Ao chegar no meu prédio, o homem me ajuda com as compras. Seguro o portão enquanto ele carrega as sacolas. Insisto em ajudá-lo, mas ele diz “Por favor, não”. Seu cabelo é lambido de gel. Quando dou meu cartão para pagar a corrida, ele acrescenta R$ 2,50 "pelo uso do porta-malas”. Fico um pouco espantada. Nunca ouvi falar nessa taxa. Mas digo que tudo bem e ele passa o cartão. Eu já tinha mesmo pensando em dar uma caixinha.
Chego em casa. Lavo as coisas de geladeira, penso nas lindas perucas de RuPaul, como três bisnaguinhas com requeijão. A forma de gelo está imunda. Jogo os gelos sujos na pia, lavo o plástico e coloco uma nova água. Em tempos de seca, talvez eu tenha agido de maneira pouco ecológica. Mas gelo sujo é um trem esquisito por demais.
De repente, me admiro: a etiqueta do lava-arroz que comprei sai facilmente. Nela, está escrito “Super Feirão Ivanelson”. Não sei quem é Ivanelson, mas é um sujeito inteligente. Antigamente (usar essa palavra é saudoso), as etiquetas grudavam no plástico. Mesmo lavando, o saleiro ficava com restos do papel colado. Hoje, não. Hoje temos Ivanelson, que cria etiquetas que saem inteiramente e não grudam. Gostaria de parabenizar Ivanelson e sua delicadeza ao pensar no bem-estar de seus clientes.
Entre bobagens e plásticos, analiso minha vida. É engraçado como o sentimento de espanto passa a ser substituído por algo quase robótico, moderno, seco. É a vida, penso, enquanto concluo esse texto.
Um comentário:
Esse papo já tá qualquer coisa
Você já tá pra lá de Marrakesh..
Postar um comentário