23 janeiro 2012

trazendo na mala bastante saudade

saiu de casa carregando a mala com a mão direita
a esquerda limpava as lágrimas
que caiam como a rara chuva

[chorava uma estrada]

ela permanecia sentada
chorava em silêncio - muito
o menino pequeno se enroscava na perna do homem
como quem dissesse
por favor, não

tão sem dinheiro que estavam
quase passavam fome
farinha com água todo dia
todo dia farinha com água

mas partia por pouco tempo
um ou dois anos
dizia

a barriga da moça anunciava algo
respirava também
logo teria nome
fosse maria
fosse joão
fosse um ainda mais bonito
wellington, pensou
nem a grafia sabia
mas pensava: uélinton

as lágrimas escorriam até o bigode castanho do homem
suas mãos inchadas e cascudas limpavam parte do rosto
mas de nada adiantava
sofria
amava a moça
amava o pequeno
e amava seu bebê

o menino passou também a chorar
inspirado pelos pais
pois que abriu um berreiro
não sabia chorar em silêncio como os dois
e dizia não, papai
não

o pai beijou-lhe a testa
e disse se cuide, menino

foi até a moça
beijou-lhe a mão
beijou-lhe a testa
beijou-lhe a barriga
e disse

eu volto

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