são pequenas sobras alocadas nas suas pálpebras
é o restinho de um bater
de asas
de passarinho
não
é o seu último fechar de olhos antes do sono finalmente chegar
te escrevi algo hoje
nada muito profundo
deixei em cima da privada
ontem você fez uma omelete
e sentada como uma criança comportada
ri porque achei omelete uma palavra bonita
e esse sapato que nem é meu
todo molhado
me rendeu conversas solitárias
vim na chuva dizendo
"mas quanta coragem, quanta"
segurando o guarda-chuva azul
só chove
agora só chove
setembro chove
tudo que te tem no meio
me faz virar um leão
acho que mataria um dinossauro, pequeno
o que mais
o que mais
contei meu infortúnio
"cheguei lá com o sapato furado, o pé todo molhado"
e você me disse que sapato furado era um bom nome de música
esses dias dei uma espiada na janela
um casal dançava na rua
encostados no carro, a porta meio aberta
se beijavam e dançavam
estava tão bonito que fechei a janela e sorri
daí pensei em você
e lembrei de quantas vezes a gente dançou em silêncio
a gente sempre dança em silêncio
Nenhum comentário:
Postar um comentário