14 julho 2011

coisas de bairro

despreocupei

seis horas: ok.

as pálpebras sempre resistem

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ouço gemidos pela janela
achei que fosse um travesti
depois concluí ser uma mulher

eu não sei o que tem neste quarteirão.

já vi de tudo:
um apartamento pegar fogo;
um fio elétrico se estrebuchar e depois derreter um táxi;
há também uma ratazana noturna que emite sons
sons malucos
e sempre que ela emite esses sons eu vou pra janela
observo-a comendo o lixo da calçada
e fico pensando que a natureza dos ratos é nojenta
a rapidez, o rabo
embora eles não tenham culpa;


num outra noite, ouvi uma menina chorando desesperadamente, loucamente
chorando pra caralho
sentada na calçada
passando mal de tanto chorar
até que uma senhora, preocupada, parou o carro e perguntou se podia levá-la pra casa
era tarde da noite já
fiquei na janela observando, não podia fazer muita coisa
a menina disse que não queria
que alguém de sua família estava a caminho
um segurança se aproximou e pediu que ela ficasse perto dele
já que "a rua é perigosa"
ela o seguiu
chorando

e eu fiz o que melhor sei fazer
que é observar

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esses dias sonhei com gatos e galinhas

e que minha mãe estava milionária

eu pensava: agora que minha mãe está milionária posso ter muitos gatos

fazia muito sentido. mas havia uma porta e os gatos estavam atrás dela. toda vez que eu tentava pegar um gato, vinha uma galinha.

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queria jogar no bicho.

mas esses dias meu pai me contou que um camarada dele lá da mooca, que trabalhava com jogo do bicho, sumiu. sumiu pois alguém jogou num bicho e deu grana. o cara, ao invés de pagar o prêmio, simplesmente sumiu.

eu gosto muito dessas coisas bairristas.

que no fundo a vida é meio assim, permeada por provincianidades.

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