24 junho 2013

nós - parte II

eis a segunda parte do não-diálogo perverso e fulminantemente juvenil criado por sabrina haick e minha humilde pessoa.


O CARA DIZ
você é o tipo de mulher que não respeita os limites humanos. nenhum homem se sentiria seguro em declarar-se apaixonado por você. não que você bote medo, mas é certo de que seria uma paixão daquelas sobre as quais a gente escreve. e eles têm medo de bancar isso. eu tenho. parece que a qualquer momento você vai pegar o primeiro ônibus pra uma praia do litoral sem pensar em me chamar porque acha que eu não vou topar. pensa que as pessoas têm dificuldade em entender sua loucura. o que você não sabe é que somos loucos iguais, a diferença é que eu não tenho coragem de soltá-la como você faz. e faz tão bem. você é tudo o que eu queria ser, tudo o que eu queria ter. mas naquele dia tudo o que eu consegui fazer foi imaginar você me olhando de baixo, com meu pau na sua boca enquanto você dançava whole lotta love. dourada. você é dourada, eu sou só um cara cinza, mais um garoto tentando ser homem. você me chama de homem, mas eu insisto em fazer-me moleque. você é menina, golden girl, ninfeta dos meus sonhos molhados. molhados e etéreos. molhados e cinzas.

GOLDEN GIRL DIZ
quem me vê sorrindo... essa noite, enquanto eu passava batom, uma campainha da mente tocou e aquele estalo, sabe?, um estalo se fez. a primeira coisa que eu vi aqui foi você. de jeans. segurando a cerveja. seu cabelo é tão bonito. eu te vi e assim que desviei o olhar, senti seu corpo me mirando. nós dois somos navios, longos navios, cheios de carga. eu não chuparia seu pau. eu beijaria seu pau. eu faria cafuné no seu cabelo. vem aqui. tá foda. eu vou aí. eu quero ouvir tua voz e ouvir teu cheiro. ouvir. eu tô suada pra caralho. será que você me chuparia assim? será que você me acha bonita, cara bonito? eu danço led, eu danço, danço qualquer coisa se você dançar desajeitado comigo.

08 maio 2013

nós - parte I

esse não-diálogo é algo meu e de sabrina haick. nunca pensei que poderia dividir algo tão íntimo com alguém: um texto. mas dividimos. aqui está a primeira parte.

O CARA DIZ
você é a garota que conheci aquele dia. você vestia branco e seu cabelo era dourado. segurava uma long neck na mão. seu papo era maluco. você falava sobre flutuar e bater punheta, mas você nem tem um pau. eu tenho um pau e pensei que você poderia bater uma punheta pra mim, mas obviamente isso seria grosseiro e eu prefiro te poupar das coisas ruins do mundo. seu cabelo era dourado, sua língua era dourada, sua unha era dourada, o ar que você respirava era dourado. a baba que saia do seu espirro era dourada. era uma chuva dourada, mas não era mijo. tinha cor de ouro. e você lambia a boca da garrafa, me provocava, falava sobre punheta. eu tava tímido pra caralho, o dia tava amanhecendo, sei lá. eu tive dúvidas e certezas e você nem viu. você dançava e as pontas do seu cabelo batiam no meu rosto. eu fechava o olho, tava tudo em câmera lenta, você dançava e batia o cabelo na minha cara e aquilo era um paraíso momentâneo pelo qual eu poderia abdicar toda a minha rotina cansativa para viver de. você tava bêbada, eu nem te conhecia direito e tinha certeza que você era daquele jeito mesmo. parecia que você tinha muita vontade de viver e, bicho, eu tava numa fase tão merda e fodida que até me assustou. me assustou pensar que alguém podia parecer tão bem, e dançar, e lamber a boca da garrafa de cerveja e me olhar com um olhar de quem conhece um mundo do qual me abstive durante esses 32 anos. e você era menina demais. e dourada.

GOLDEN GIRL DIZ
você não tava nem aí para mim, não falava uma palavra, mas tava na roda. o fumódromo tava lotado, às vezes a gente roçava os braços, tava calor, todo mundo suava. o pessoal tava falando muito alto, mas eu escutei quando você me perguntou se eu curtia pink floyd. respondi que muito, você ameaçou sorrir, mas nem isso. me peguei te olhando enquanto bebia um daqueles goles da long neck, você olhou de volta e desviou na mesma hora, assustado. não sabia qual era a tua, mas teu jeito de menino tímido que foi excluído no colégio me dava tesão. por um instante vi você trocando palavras com uma mulher de cabelo cacheado que vestia uma saia até o tornozelo e me subiu um fogo. homem, como pode me enlouquecer com tanto silêncio e deixar outra ouvir sua voz tão de perto, pensei. mas isso foi só por dois minutos. começou a tocar led e fui dançar com as minhas amigas. bêbadas, suadas, de mamilos duros, dançamos para vocês. eu para você. a outra mulher tinha sumido e você então passou a me olhar mais vezes, de um jeito gostoso, te puxei para dançar e você veio, fiquei até com medo. meu cabelo tava grudando na nuca de suor e você praticamente seco, sério, silencioso, mas, ainda assim, na roda.

05 março 2013

pra quem nunca ganhou um jabuti

pessoais é foda as prateleiras das nossas livrarias preferidas estão com um grave problema elas foram acometidas por livros blogueiros as pessoas simplesmente esqueceram que literatura é uma coisa e blog é outra tá cheio de livro blogueiro no pior estilo clarah averbuck fodeu é o fim dos escritores agora todo mundo é blogueiro a moda agora é namorar pelado e ser blogueiro o sonho acabou

não sei se foi o jornalismo, mas de repente eu perdi todo e qualquer tesão em escrever lite cof ratura
um dia comprei um caderno colorido e pirotécnico e comecei uma peça
um filme
mil duzentos e quarenta e dois poemas
e, do nada, cansei
cansei muito
em contrapartida, estou lendo feito louca
e é muito melhor ler do que escrever
quero o anonimato total, bicho
canseizão de ser a sensação literária do momento

é óbvio que estou brincando
nunca ganhei o jabuti
nem o nobel
nem o oscar
nem o bbb

antes de tudo, vou colar aqui algumas anotações do caderno pirotécnico. escritos soltos, poemas e trechos de uma canção do luis miguel que canto chorando. vocês deviam ouvir essa canção.


quero escrever uma
história de amor
uma grande história
de amor.
acho que sempre quis.




outro dia, no metrô
um rapaz anunciava seus produtos à venda
"promoção shopping-metrô-trem
enquanto o zoião do guardinha não vem"




escrevendo bastante nesse caderno
só porque é um caderno novo.
na verdade, essas cores fortes me injuriam.
apesar de também já ter enjoado
das folhas brancas.

mas dizem que branco é uma cor que não enjoa.



as atendentes do restaurante
na paulista
as atendentes limpando
as atendentes
casa
casa
ir pra casa.



ALBATROZ.



dicen que la distancia es el olvido
pero yo no concibo esta razón
porque yo seguiré siendo el cautivo
de los caprichos de tu corazón



galáxia
lua
dentista
leite desnatado



a vila leopoldina é cheia de luzes verdes. eu acho.



ceci perdeu o caderninho amarelo de sassá. o caderno que eu tanto cobiçava ler (um dia irei). e agora estamos todas preocupadas com o destino do tal caderninho. "é um segredo." antes fosse uma cebola. não é. problema é que sassá não sabe que seu caderno sumiu. e agora a vejo na aula, silenciosa, em paz. como ela irá reagir? é um segredo.




PRÓXIMA ESTAÇÃO
MARECHAL DEODORO
DESEMBARQUE PELO LADO DIREITO DO TREM



manhã de terça-feira
o som do metrô
o silêncio do coletivo
meu coração
quer abrigo



hoje tá tão frio
mas tão frio
que só entrei na aula pra me sentir aquecida.



no ponto de ônibus

olhei pra trás
e uma moça comia salgadinho com tamanha gula e desatenção
fiquei pensando se ela sabe o que é poesia.

porque, na verdade, ninguém tem que saber o que é poesia.
foi apenas uma indagação minha.

amo a todos.


ps - continuando com a tara de escritores desconhecidos, hoje eu comprei um livro e pensei "que porra de nome é esse?". quando abri o livro, o autor explicava que aquela palavra foi a terceira coisa que ele disse/balbuciou na vida. fez todo sentido. parem de fumar maconha e comprem livros, seus marginais. ou vocês vão acabar como o zé celso. pelado e maconheiro. tá bom, isso pode ser legal também.

02 fevereiro 2013

livros e gatos

ia dormir mais, mas não resisti
abri uma fresta da janela
e comecei a ler o livro que comprei ontem

rafa disse que sou o sonho de qualquer escritor
porque entro em uma livraria e compro um título qualquer
não preciso de referências ou resenhas elogiosas
gosto de ler alguns trechos (principalmente as primeiras frases)
admirar a arte
sentir a textura das folhas
checar o espaçamento (extremamente importante)
e pronto
se gosto, compro
não preciso ter ouvido falar do autor
gosto da surpresa

pois
agora os gatos da rua aparecem em minha janela
contabilizo três noites seguidas já
o gatinho aparece aqui, mia e preciso abrir a janela
converso com ele, que me olha nos olhos de um jeito obsessivo
e quase assustador
aí fecho a janela e volto a deitar

na primeira noite eram dois gatos
e depois só um apareceu

ontem ele ficou de longe
em cima do carro do vizinho
e mesmo assim, distante
eu podia sentir seus olhinhos loucos me fitando
enquanto eu fumava e fazia barulhos esquisitos para que ele se aproximasse




21 agosto 2012

saudade é ouro


juazeiro
que nem sei que é
alento
joaninha
flor-de-água
maralismos
morangotangos
e outras dessas coisas

como uma casa cheia de areia
e meus primos
se entenda-se lá

quanto mais leio o livro de guimarães rosa
menos entendo
mas vem uma vontade de grifar
grifar tudo
e sempre me avessei aos rabiscos
mas ler e esquecer é problema
e o livro é lindo, lindo

saindo da puc, tateei tudo na banca
manuais para emagrecer
revistas "femininas"
como decorar ambientes
filosofia
psicanálise
papo-cabeça
mas fui mesmo de maurício de sousa
comprei o almanaque da tina
porque adoro o rolo
e a tina e a amiga dela

também comprei um maço de cigarros

jaboticabeiro
galinhas

a gente vai envelhecendo e as memórias da infância ressurgem
dum jeito brabo
vem em cores vivas
em cheiros e sons
dia desses foi o spray de cabeleireiros

na mooca, mamãe só fazia o cabelo com maura
uma mulher espevitada
de cabelos curtinhos
sotaque ultra paulistano

eu gostava de perambular pelo salãozinho
via tudo
presilhas, tesouras, esmaltes
mas o mais doce dos momentos era mesmo sentir a fragância do spray
o spray de cabelos
que hoje só usamos para festas
mas naqueles tempos, todo corte de cabelo parecia exigir
era um spray de lata azul e tampa branca

dia desses passei uma noite toda sentindo esse cheiro

como sempre sinto o cheiro do buster
meu boxer que, com 10 anos de vida, fugiu
fugiu
sabe-se lá
o portão aberto
buster bonzinho demais
foi passear
nunca voltou

espalhamos cartazes escritos à mão por toda a mooca

nunca tivemos uma notícia sequer

até hoje choro

penso no buster
fofinho
tinha cheiro de salgadinho
aqueles pelinhos dourados
o focinho preto
o peito branco
as patinhas no chão
tudo nele era lindo

lembro quando eu lavava o quintal e gritava com ele
dizendo: vai pra casinha!
hoje me arrependo dos gritos

ele era o mais doce dos cachorros
me desculpe, buster

esse blog é mesmo um espaço onde me retrato

porque escrever me faz pensar e pensar me faz lembrar
lembrar me faz repensar
e repensar me dá vontade de ser perdoada

me dá saudade

essas coisas