16 janeiro 2014

leãozinho

estou no ônibus indo pra casa. o sol ainda está forte. senti um cheiro que me fez pensar e pensar e fechar os olhos pra me lembrar como era. é um cheiro de escola de criança. de brinquedo de madeira. engenheiro. cheiro de giz. de material escolar novo no começo do ano. é o cheiro do uniforme, que sujo ou limpo tem sempre o mesmo cheiro. cheiro de professora de jaleco rosa claro. fechei o olho e tentei lembrar. agora mal lembro o nome das professoras. eram duas irmãs, já senhoras, donas da escola. na mooca. tia lurdes. lembrei. ir pra escola era um misto de alegria com choro porque minha mãe e meu pai sempre trabalharam demais. eu tinha saudade. e medo de zarpar do carro e passar a tarde longe. preferia estar em casa brincando ou com eles no trabalho. não sei se era a melhor escola, mas era uma boa escola. não sei se o método de ensino era libertário e construtivista, mas era um bom método. eu era feliz. e lembro de banquinhos de madeira vermelhos. eles tinham um furo no meio e um cheiro bom de madeira. lembro de um dia me sentir triste. triste porque tinha medo de conviver, de ser julgada, de não ser aceita. mas eu era aceita. tinha amigos. as professoras gostavam de mim. isso tudo foi no pré. aí fui para uma escola maior. no primeiro dia da primeira série eu estava no carro com meu irmão do meio e minha mãe ao volante. eu estava com medo e usava um vestido de algodão verde-abacate. mas o verde de dentro do abacate, aquele mais claro. eu tinha cabelo chanel. minha professora se chamava eugênia. como eu queria lembrar o sobrenome dela e reencontrá-la. como fomos amigas. desde o primeiro dia de aula até o último, dos quatro anos em que estive lá. um dia a professora eugênia me chamou de canto e disse bem baixinho no meu ouvido: não conta pra ninguém, mas você é minha aluna preferida.

Um comentário:

João Ferreira. disse...

Você é incrível. Que bom que é ler algo seu!