26 fevereiro 2011

são pássaros / dissuadindo

são pássaros
que sobrevoam
uma cabeça
aerada
repleta de bolhas
que dançam
e explodem
dançam
e explodem


luzes
de 15w
verde&laranja


são luzes
imperceptíveis
que atravessam
o papel
e a caneta


é amor
e contestação
um bend
na violinha
e a voz


nunca fui sua musa
pois não fui inalcançável
não estive atrás de uma vitrine
fui real
fui sua
sua mulher
sou amada
não fui adorada


me inspira o que pulsa
o que nasce
e morre
não amo o plástico
nem o concreto


sempre detestei morcegos
mas ontem vi um reportagem
e tive vontade
vontade de ser
um morcego


lá ficar
com minhas asas
negras
de ponta-cabeça
idolatrando a silenciosa meditação diurna...


o escuro é um poço
sem fim
é sagrado
um descanso aos olhos


os olhos precisam de vitaminas,
precisam do sol
e precisam também
da escuridão total




eu sou um olho.




preciso ser um morcego
e
às vezes
um pássaro
ou até mesmo
uma formiga minúscula
silenciosa e insignificante
em sua singela existência



simples
vulnerável






quero ser rasa como uma formiga.
agora.






__






dissuadindo

respeito a sina de cada um
acontece que estou numa fase autobiográfica
engatinhando
quanto mais velha fico,
mais menina me torno
invadida por uma compaixão demasiada
um altruísmo sentimental irrefreável
à margem


fêmea
repleta de pensamentos
com um corrimento
do cérebro aos pés
e o mundo talvez me condene
mas virei uma bunda-mole
uma madre teresa
que pensa três vezes antes de falar
me virei pra dentro
minha língua secou
minha ânsia aquietou


não é paz de espírito
é aceitação
"o que tem pra hoje"
zé ninguém do meu próprio universo
às custas de algumas lágrimas
mas
sou
eu

assim
.

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