o mundo parou e voltou a ser mundo porque o sol bateu na janela e debaixo do lençol eu sentia o dia chegando quente.
- mora comigo?
nós passamos uma noite só juntos e ele quer que eu more com ele. sério mesmo que ainda existe romance no mundo? achei que as pessoas acreditassem em tesão, paixão, obsessão. amor, pra mim, é novidade. desde que meu casamento com o antônio desmoronou, foi muito difícil fraquejar e voltar a acreditar em sentimentos reais. é como se o tempo tivesse me endurecido. é como se eu tivesse perdido a ternura. trocadilho infeliz. eu sei.
suddenly, out of left field
came a lover and a friend
she was a lover and a friend
came out of nowhere
she made me a man
every thing is alright
how sweet it is
ele me acordou pedindo que eu fosse morar com ele e cantando percy sledge bem baixinho. levantei, coloquei minha calça jeans e ele fitava os meus peitos como um louco.
- eles cabem na minha mão, falou enquanto eu fazia um coque no cabelo e olhava ele deitado sem roupa com os braços atrás da cabeça.
minha alma sorri. é um lance que não tem nada mais nada a ver com o corpo, é muito pior, é quase infantil, é quase uma sede, uma loucura, tipo ser criança e precisar desesperadamente de uma bicicleta, é como se não desse pra respirar sem isso, é como correr pra entrar no metrô no último segundo antes da porta fechar, é como ter que esperar a porra da sopa esfriar pra dar a primeira colherada em julho, quando tá um frio do caralho. é conflituoso. é um sacrifício. é de perder o fôlego. é tipo um soluço que não passa. é como sonhar que você está pelada na frente da escola toda. ou de pijama.
amar é uma aflição.
- o que você faz da vida?, pergunto.
afinal, transei com um cara que mal sei quem é. o que sei é que ele tem um gosto musical incrível, cheio de poeira, e que casa perfeitamente com o meu apreço por velharias sonoras. mas música não é tudo. se ele disser que gosta de assistir big bang theory ou dexter, pego minhas coisas e saio dessa casa correndo.
- por que seu casamento acabou?, ele retruca.
- eu perguntei primeiro. o que você faz da vida?
e ao invés de responder, ele bateu com as mãos no colchão, me chamando pra perto. fui. deitei. e ele começou a tirar a minha calça e desfazer meu coque. deixei. e ele me respondeu.
- o que eu faço da vida a partir de hoje é te fazer feliz.
[continua...]
Nenhum comentário:
Postar um comentário